Uma sertaneja psicodélica
Por: Larissa Lira

Dávila Maria da Cruz Andrade, nascida na cidade de Coremas, sertão paraibano, no dia 05 de junho de 1985, a caçula de Francisco Cazé de Andrade e Maria Aparecida da Cruz Andrade, irmã de Diva Alessandra Andrade Gregório  e Davi Alysson da Cruz Andrade, tia de Marina Andrade Gregório e mamãe de Lessynha, sua cadelinha de estima. Uma nordestina que teve muito orgulho do seu nome e das suas raízes e não perdia a oportunidade em falar das belezas da sua terra, por isso vale á pena mergulharmos no oceano da Mãe D’água para entender a profundeza da sua curta e intensa trajetória aqui neste chão. O açude de Coremas-Mãe D’Água é considerado o maior reservatório de água do estado da Paraíba, inunda a região dos Coremas, grupo indígena, valente, aguerrido e destemido que habitava o oeste do estado da Paraíba, onde hoje está situada a cidade de Coremas. O espelho desse complexo hídrico, a fluidez de suas águas e as chuvas que chegavam ao sertão enchia de alegria o coração dessa sertaneja que ganhou a liberdade de alçar vôos para além do seu território e ser uma “mulher do mundo”, como bem dizia sua vó Margarida, mãe do seu pai também conhecido como Chico Paraíba. É uma prática de muitas famílias do interior trabalhar por toda uma vida para investir numa educação de qualidade para os filhos/as e foi nesse intuito que seus pais sempre estiveram empenhados e foram seus principais incentivadores na sua saída do sertão com 17 anos de idade para estudar na “cidade grande”. Em 2003 deu início a graduação em Comunicação Social-Jornalismo na Universidade Estadual da Paraíba, onde conheceu Rômulo Azevedo e quem foi seu orientador nesse início de carreira acadêmica, não sabia ela que mais tarde iria reencontrá-lo em outras esferas, vamos adiante para entender essa história! Antes mesmo de finalizar a primeira, ingressou numa segunda graduação em 2005, desta vez em Filosofia também na UEPB. Sua mente geminiana fértil e fervilhante de idéias sempre se mostrou disposta a fazer reflexões profundas sobre o ser, o existir, a conhecer novas coisas, lugares, pessoas e viver tudo que houvesse para viver. No seu tempo de graduação esteve envolvida com o movimento estudantil e numa das manifestações contra a falta de incentivos ao campus deu a mão a uma parceira de lutas, a sua amiga Larissa Lira. Foi essa amiga que na época também cursava Filosofia que despertou em Dávila a curiosidade e vontade de conhecer os mistérios da floresta e a religião do Santo Daime. Chegando à igreja Céu da Campina se deparou com o seu professor orientador da graduação, Rômulo Azevêdo, era ele o dirigente daquela instituição, por algum tempo ainda continuou a chamar ele de “professor”, após ingressar no Batalhão da Rainha da Floresta e assumir os compromissos com a doutrina do Santo Daime em 2008 Rômulo passa a ser o seu padrinho e continua a ensinar como grande professor. A doutrina do Mestre Império Juramidam foi mais um dos oceanos que Dávila mergulhou profundamente, dessa vez sob a guia de Raimundo Irineu Serra. Ela que sempre gostou de viagens, agora podia navegar na sua consciência e expandir sua mente em todas as dimensões, da terra ao astral. Foi o Santo Daime que despertou a continuidade e segmento da sua carreira acadêmica, em 2012 foi residir na capital João Pessoa e em dois anos concluiu seu mestrado no Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões na Universidade Federal da Paraíba no ano de 2014. Sua dissertação, intitulada Memória do Santo Daime na Paraíba: vinte anos de histórias ao Som e na Luz da Floresta, representa um trabalho pioneiro na academia sobre a história do Santo Daime na Paraíba e Nordeste do Brasil. Mais tarde ela também ingressou no Doutorado no mesmo programa, desta vez inspirada pelo movimento de mulheres daimistas, o Emflores Nordeste, evento no qual ela teve grande participação nas organizações e fortalecimento desse encontro que passou a unir as mulheres da floresta até o mar. Seus temas de pesquisa atuais versavam sobre as trajetórias e movimentações femininas no Santo Daime, foi ela a idealizadora da sessão temática deste primeiro encontro de pesquisadores. O Emflores Nordeste passou a ser um evento itinerante e lá estava Dávila sempre á frente das organizações de todas essas viagens e eventos por quase todo o Nordeste e como legítima sertaneja gostava de andar em bando, falava com muita graça da sua comitiva e assim estimulou muitas mulheres a conhecerem outras igrejas, estarem juntas de outras mulheres e sempre apontando pra importância que essas vivências proporcionam. Ela fez rastro por várias partes do Brasil, em 2012 participou das festividades de 30 anos do Céu do Mar (RJ), em 2014 esteve no feitio dos 16 anos do Céu da Lua Cheia (SP), em 2015 voou como um beija-flor para a floresta amazônica para conhecer o Céu do Mapiá e participar das festividades dos 90 anos da Madrinha Rita, em 2016 participou da II Conferência Mundial da Ayahuasca na Universidade Federal do Acre onde apresentou parte da sua pesquisa de mestrado, durante sua visita em Rio Branco ela participou de trabalhos na Colônia Cinco Mil e na Igreja Estrela D’Alva do senhor Luiz Mendes, em 2018 esteve em Salvador (BA) no aniversário da dirigente Catarina na Igreja Brilho das Águas, em 2019 esteve em Lumiar (RJ) na Flor da Montanha para conhecer o legado da mamãe Baixinha, no mesmo ano participou do Fórum das Igrejas do Nordeste em Recife com a Madrinha Sônia e Padrinho Alex Polari e também esteve no Emflores Nacional na Igreja Céu de Maria (SP) e no primeiro semestre de 2020 esteve no Maranhão na companhia de Fernanda e Leandro no Céu das Águas Claras. Com essa andança confirmamos o título que vó Margarida lhe deu, “uma mulher do mundo” e por esse caminho espalhou muita alegria, conversou feito à mulher da cobra como a gente fala aqui na Paraíba e firmada na terra seguiu cantando na banda do claro os primores da floresta. A doutrina do Santo Daime foi a sua forma de vida, escudeira fiel, ponta de lança do batalhão feminino, zeladora das memórias e não à toa, firmada no Comando das Águas nos deixa uma
linda memória escrita e musical, seus hinos e louvores saúdam a Mãe D’Água, santos e orixás. Enquanto cientista foi uma curiosa quando o assunto era experiências religiosas, ela fez caminhos por várias tradições, foi sempre com muita alegria as casas de axé, se embalava com os batuques do tambor, foi num Ilê que os búzios confirmaram ser ela uma legítima filha de Ogum e isso foi transformador em sua caminhada, bailar um toré era um programa de índio que ela fazia gosto em estar, a religião ayahuasqueira Barquinha marcou profundamente seus últimos dias aqui neste chão, os irmãos Joca e Paola vindos do Acre para Paraíba trazendo consigo os embalos das ondas sonoras do mar chegaram como uma luz de inspiração para desabrochar e apurar ainda mais seus dons musicais, cantar foi a sua vida, expressar seu amor pela voz foi seu alento diante as amarguras das lutas diárias travadas aqui na terra. Junto às crianças era uma grande menina feliz, foi madrinha de sete ovelhinhas: Joaquim, Luís Gabriel, Ana Júlia, Larah Kalil, Davi, Arthur e Kayla Maria, a querida tia Dávila. Seu espírito e abraço acolhedor ficará gravado no coração de todos/as que tiveram a graça da sua presença, sua força, potência e vigor reanimará toda irmandade que estremeceu com o balanço da sua travessia para o astral superior. Sua voz tilinta em todos os corações, o seu cantar será nosso conforto e só ele aliviará a nossa dor. A estrela Dávila foi brilhar em outra dimensão, sua luz chega até nós, sua presença na terra nos revela o amor e nos ensina a amar!

15/11/2020
Larissa Lira

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